quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Ele e insônia.


Essa já deve ser a terceira vez que se levanta. O som do ventilador confunde-se com a música que ela colocou. 
Indie Rock. 
Pra dar sono, pra parar de pensar, pra parar de querer. 
Seu pai chega às 5 e pergunta-lhe o que há. 
"Há o que há todas as noites", ela pensa. Mas simplesmente sorri e responde um "nada" vazio.  
Pega seu livro de sonhos, que talvez seja apenas um bloco de anotações mesmo, e começa a despejar, naturalmente, as palavras que saltam-lhe ao pensamento. 
Escrever é melhor do que lutar contra a insônia. 
Ela pensa em correr, pensa em histórias, em vestibular, em mudar a cor do quarto; ela pensa em desligar o ventilador, pensa em sair, pensa no que vai dizer a ele depois da briga de ontem. 
Pensa em mandá-lo à puta-que-o-pariu, mas na verdade, ela é que precisa ir a algum lugar. 
Ela pensa na próxima cor de esmalte que usará. Pensa nele. Pensa em tomar alguma coisa. Pensa nele. Pensa em tomar um banho. Pensa nele. Pensa em parar de pensar. E pensa nele. 
Porra!
Sua mão começa a doer antes do esperado e sua resistência à dor (qualquer que seja) nunca foi motivo de orgulho. 
Joga o livro de sonhos de lado. Pensa nele. Desliga a música. Pensa nele. Apaga a luz. Pensa nele. Deita-se. Pensa nele. E então volta a lutar contra a insônia.
E pensa nele. 

Luz.

Thaís Peace

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Lágrimas de Chuveiro


Toda essa dor escorrendo em um pranto disfarçado pelo banho quente. Me sinto idiota por estar aqui molhada, com frio e deixando que a água caia confundindo minhas lágrimas. 
Eu não sou assim, isso foi você que me fez. Sinto falta do meu sorriso... mesmo do falso. Devolva-me cada alegria roubada, pois tu não tens o direito de tirar o que tenho de melhor; até porquê, não vais usá-las de jeito algum. 
"Amarás aquele que ama o outro."
Bem verdade. Minha verdade. 
Verdade que deveria estar errada e no entanto é a única certeza que tenho de você. 
A água continua caindo sobre mim, tão quente. E agora não consigo imaginar ou querer teu corpo junto ao meu. 
As palavras não ditas, dessa vez, prejudicaram o que temos.
[tínhamos]
Mas eu sei, não posso cobrar nada. Preciso somente me levantar desse chão, preciso me secar, vestir, estar bem. 
Não posso mais chorar. 
Não aqui, não hoje. 
Não por você. 
Desliga a água e volta a viver. 

Luz.

Thaís Peace